Amorteamo: reinvenção que levou à aclamação

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Dentre as inúmeras produções lançadas pela televisão brasileira, dificilmente nos surpreendemos com algo novo. Eis que nesse cenário de mesmice e de linguagem pouco inovadora, surge a série Amorteamo. Escrita por Guel Arraes, Newton Moreno e Cláudio Paiva, sua história tem como pano de fundo dois triângulos amorosos: o primeiro conta a história de Arlinda (Leticia Sabatella), Chico (Daniel de Oliveira) e Aragão (Jackson Antunes); já o segundo, de Gabriel (Johnny Massaro), Lena (Arianne Botelho) e Malvina (Marina Ruy Barbosa). Esse estilo de roteiro é bem conhecido pelo público, mas o que faz de Amorteamo diferente é o fato de Malvina e Chico estarem mortos. Malvina se mata ao ser abandonada por Gabriel no altar e, logo depois, retorna trazendo consigo todos os mortos da cidade. Temos aí um gênero pouco explorado pela televisão brasileira: o terror.

Mesmo com referências claras ao filme “A Noiva Cadáver”, de Tim Burton, Amorteamo não perdeu a originalidade ao tratar de amor e de morte. Ambientada no Recife do século XX, sua fotografia, figurino e caracterização foram impecáveis e ajudaram a transmitir o tom sombrio.

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Lena (Arianne Botelho), Gabriel (Johnny Massaro) e Malvina (Marina Ruy Barbosa).

Todos os seus cinco capítulos foram embalados por uma ótima trilha sonora e tivemos o prazer de ouvir Letícia Sabatella cantando, além de ver seu show de interpretação. Aliás, este é outro ponto forte da série: o elenco.

Outro aspecto que diferenciou (positivamente) a série das demais produções brasileiras, foi sua divulgação na web. Antes de ir ao ar na TV, o capítulo de estreia foi exibido com antecedência no GShow, causando murmurinho e atraindo a atenção do público jovem. Os fãs também tinham disponíveis no site da Globo um webshow, que contava histórias dentro do universo criado pela série.

Todos esses aspectos fizeram de Amorteamo um sucesso de público e de crítica e uma segunda temporada já foi confirmada para 2016. Posso dizer com certa ousadia, que essa, até agora, é a melhor produção da Globo neste ano, pois soube dar um ar de frescor às repetidas histórias contadas na televisão brasileira.

Por Luis Felipe Cardoso

Henry Jenkins: a geração da convergência midiática e cultural

1017-transmedia290 Considerado um dos mais influentes pesquisadores sobre mídia da atualidade, Henry Jenkins III nasceu no dia 4 de junho de 1958, na cidade de Atlanta, Georgia (EUA). Professor e pesquisador, tem como objeto principal de estudo a emergência dos novos meios de comunicação e a efervescência em torno deles, assim como as importantes transformações culturais que estão ocorrendo com a convergência desses meios e a criação de culturas de participação em seu seio.

Jenkins formou-se pela Georgia State University em Ciências Políticas e Jornalismo, tornou-se Mestre em Estudos da Comunicação pela University of Iowa e PhD em Artes da Comunicação pela University of Winsconsin-Madison. Esteve à frente do programa de Estudos de Mídia Comparada do MIT (Massachusetts Institute of Technology), entre 1993 e 2009, e, atualmente, é professor de Comunicação, Jornalismo e Artes Cinematográficas na University of Southern California.

O autor é bastante engajado em projetos, como o Convergence Culture Consortium (C3) e o New Media Literacies (NML), ambos criados por ele. O primeiro tem como foco principal compreender de que maneira a constante interação de várias mídias provocam mudanças no mercado e nas marcas; já o segundo visa a participação dos jovens – um dos principais elementos de seu estudo, como nesta entrevista – na criação de conteúdos colaborativos e no engajamento.

Entre o seu catálogo de obras, destacamos algumas, como: “Textual Poachers: Television Fans and Participatory Culture” (1992), “The Children’s Culture Reader” (1998), Democracy and New Media” (2003), “Convergence Culture: Where Old and New Media Collide” (2006), “Fans, Bloggers, and Gamers: Exploring Participatory Culture” (2006) e “Confronting the Challenges of Participatory Culture: Media Education for the 21st Century” (2006).

Manuel Castells: sociologia urbana, tecnologia e movimentos sociais

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Um dos grandes teóricos da denominada “sociedade do conhecimento”, o professor e sociólogo espanhol Manuel Castells nasceu no dia 9 de fevereiro de 1942, em Hellín, Albacete. Durante os anos 70, foi de suma importância para o desenvolvimento da sociologia urbana Marxista. A partir de 1980, deixou de lado os estudos Marxistas e passou a se concentrar no papel das novas tecnologias na sociedade, principalmente na esfera econômica.

Castells iniciou sua graduação em 1958, na Universidade de Barcelona, nos cursos de Direito e Estudos Econômicos, que fora interrompida mais tarde, em 1962, devido ao exílio político durante a ditadura de Francisco Franco. Ainda assim, graduou-se tanto em Direito – especialidade em Direito Público e Economia Política – quanto em Economia pela Universidade de Paris, em 1964. Tornou-se Mestre em Sociologia pela Escola de Altos Estudos de Paris, em 1966, e um ano depois viria a se tornar Doutor na mesma área pela Universidade de Paris. Em 1978, concluiu outro doutorado em Sociologia, dessa vez pela Universidade de Madrid; cinco anos mais tarde concluiria seu segundo doutorado pela Universidade de Paris, agora na área de Letras e Ciências Humanas.

Docente em instituições como Universidade de Paris, Universidade de Madrid e Universidade da Califórnia (Barkeley), além da Escola de Altos Estudos de Paris, o espanhol desenvolveu conceitos importantes como capitalismo informacional – uma revolução no capitalismo, guiada pelo fluxo informacional, que não se limita ao alcance econômico do sistema e é responsável por modificações sociais – e consumo coletivo – desenvolvido para pensar o consumo produtivo de bens e serviços relacionados à indústria, principalmente aquelas de alta tecnologia.

Manuel Castells, pensando a partir de uma sociedade em rede como estrutura interativa para transmissão de informações e conhecimentos, faz surgir uma percepção crítica, com raízes nos campos políticos, culturais, sociais e econômicos, até então não desenvolvida pelos teóricos da pós-modernidade.

Algumas obras de sua bibliografia são: “The Urban Question: a Marxist Approach” (1972), “City, Class and Power” (1978), “The Informational City: Information Technology, Economic Restructuring, and the Urban Regional Process” (1989), a trilogia “The Information Age: Economy, Society and Culture” (envolvendo os volumes “The Rise of the Network Society: The Information Age” (1996), “The Power of Identity” (1997) e “End of Millennium” (1998) e “The Internet Galaxy, Reflections on the Internet, Business and Society” (2001).

Abaixo, um breve vídeo no qual o sociólogo espanhol disserta acerca dos movimentos sociais, um dos seus objetos de estudo:

Peça publicitária: New Balance e os calçados ortopédicos

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Em atividade proposta pela professora Gabriela Borges, os grupos foram responsabilizados pela criação de uma peça publicitária sobre alguma marca já presente no mercado. Nós, o grupo do Teorizando e Comunicando, resolvemos abordar uma marca esportiva que, apesar da longa tradição no mercado norte-americano – principalmente – e mundial, vem crescendo bastante nos últimos anos. Trata-se da New Balance, uma marca responsável pela produção de artigos esportivos de moda masculina e originalmente americana de Boston. Fundada ainda em 1906, a New Balance produzia palmilhas e calçados ortopédicos nos seus primeiros anos de vida, o que foi determinante no diferencial da marca ao entrar no mercado esportivo ainda na década de 1930 ao produzir seus primeiros modelos de tênis para corrida.

Suas origens nos inspiraram na criação do slogan para a marca: “Be the comfort” (“Seja o conforto”, em tradução literal). As intenções ao ter determinado tal slogan é ser direto, objetivo e impactar o leitor com o elemento que caracteriza a marca e, consequentemente, seus produtos.

Esse elemento diferencial nos direcionou ao título criado: “There are ‘N’ reasons to use New Balance because just do it is not enough”; além disso, utilizamos o trocadilho com a letra N – um outro ponto marcante da empresa, presente na sua logo – e de seu frequente uso em teoremas das Ciências Exatas para fazer alusão a diversas razões que levariam o consumidor a usar os produtos, explicando que “apenas fazê-lo ou compra-lo” não é o suficiente. A postura um pouco mais agressiva do título da peça faz uma associação com o slogan (“Just Do It”) da principal concorrente em solo norte-americano, a Nike.

A imagem usada na propaganda é um referencial ao caráter ortopédico da marca, trazendo um homem fazendo testes de performance com um dos novos modelos de tênis desenvolvidos. Tanto o título da campanha quanto a sua imagem se inter-relacionam ao texto, que traz o desenvolvimento e uma explicação um pouco mais profunda a respeito de como surgiu a marca e seu caráter ortopédico que propicia o conforto tão desejado nos tênis de corrida, expondo aàs razões pelas quais o consumidor “deve” comprar tal produto e os diferencias de performance obtidos devidos aos inúmeros testes desenvolvidos pela companhia, exemplificados na imagem. O texto, construído em inglês, diz o seguinte:

Sinônimo de respeito, originalidade e modernidade, a New Balance oferece várias opções de tênis de corrida com performances diferenciadas nas pistas e marcados pelo conforto oferecido a quem os usa. Com um desgin clássico e uma performance moderna, os tênis trazem como grande diferença a origem no trabalho ortopédico desde a década de 1930. Os tênis New Balance têm uma variedade de formas e tamanhos e calça os pés das pessoas fornecendo uma melhor performance e são produzidos sob mão-de-obra qualificada e conceitos sustentáveis. Você não compra um produto, compra um conceito”.

A peça foi desenvolvida por completa em inglês devido à nacionalidade da marca e para propiciar o sentido necessário ao título que faz alusão ao concorrente. Abaixo, no canto inferior direito encontramos a assinatura da propaganda, contendo a logo e o slogan criado pelo grupo. Originalmente, sua circulação foi idealizada para a plataforma de impressos, principalmente revistas.

*A peça foi desenvolvida por alunos de graduação do curso de Jornalismo, da Universidade Federal de Juiz de Fora, sem nenhuma associação profissional com as marcas citadas.

A narrativa transmídia de Star Wars

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Podemos definir narrativa transmídia como uma forma de narrativa contada através de várias mídias. Múltiplas histórias de um mesmo universo se complementam para formar um arco narrativo. Apesar disso, pode-se compreender a história contada em cada plataforma de forma individual, sem acompanhar os fragmentos em outras mídias.

Para ilustrar e facilitar o entendimento, vamos usar o exemplo da franquia Star Wars.

Com sua estreia em 1977, o filme “Star Wars Episódio IV: Uma nova esperança” criou uma legião de fãs em todo o mundo, que passou a esperar ansiosamente os próximos filmes da hexalogia criada por George Lucas.

Com todo o sucesso obtido, foi inevitável a exploração do universo (gigante) em várias outras mídias.

A editora Dark Horse, que publica HQs (histórias em quadrinhos) lançou um grande arco de um universo expandido de Star Wars, contando com novos e conhecidos personagens. As histórias esclarecem muitas lacunas deixadas pelos filmes, contando histórias da República, dos jedis e dos siths, sem contar que se aprofunda mais nas histórias particulares dos personagens dos filmes. Mas quem não viu os filmes consegue entender as histórias dos quadrinhos e vice-versa.

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HQ – Star Wars

Os videogames foi outra mídia bastante explorada. Existem mais de 40  que exploram o universo criado por George Lucas, criados para consoles (ex: Playstation), PC e até para smartphones. Tem jogos para todos os gostos: de corrida, online, estratégia, aventura e ação. Essa plataforma é mais seletiva, ou seja, é muito difícil alguém que não seja fã do universo se interessar pelos jogos – o que não tira sua popularidade. A quantidade e diversidade comprovam o quão popular essa franquia é.

Star Wars voltou a fazer estardalhaço quando seus direitos foram comprados pela Disney e uma nova trilogia foi anunciada. Essa divulgação utilizou teasers e redes sociais, deixando os fãs ávidos por mais um filme. Sem dúvidas, essa é uma das franquias mais cultuadas e rentáveis em todo o mundo.

Confira o trailer do filme “Star Wars: O Despertar da força”, que será lançado em dezembro deste ano:

Consumo segundo Canclini: Fugindo do senso comum

No capítulo “O consumo serve para pensar”, Canclini deixa claro que a definição do senso comum – em que consumir é comprar desenfreadamente, compulsão causada pela manipulação da mídia – está totalmente equivocada.

É impossível definir consumo, de forma ampla e complexa, sob a ótica de apenas uma disciplina. Canclini nos apresenta uma teoria multidisciplinar: pensando no aspecto econômico, consumir faz parte do ciclo de produção e reprodução. Sem consumo, não haveria porque produzir. Então, são estruturas de administração de capital que se determina o que se consome, não gostos ou necessidades individuais.

Porém, segundo uma corrente antropológica e da sociologia urbana, que analisa a interação entre emissores e receptores, é possível perceber que a proliferação tecnológica, na moda, na comunicação, também interfere no consumo. Afinal, o consumo cria conflitos entre as classes, causados pela participação desigual no processo de distribuição e apropriação de bens, segundo Manuel Castells. Ou seja, consumir também é uma forma de status, de se ver incluído dentro de uma sociedade.

Pensando assim é fácil perceber porque roupas e acessórios apresentados na mídia fazem tanto sucesso entre o público.

Em Maio de 2010, o site da revista Veja publicou uma matéria intitulada “Os 10 modismos de novela que fizeram mais sucesso”, na qual a autora da lista ainda afirma que “se o figurino da TV ganhou as ruas é sinal de que a trama ‘vingou’”.

A primeira moda apresentada é de 1978, da novela Dancin’ Days. Mesmo já tendo 37 anos desde as meias de lurex brilhantes e coloridas, usadas com sandálias de salto alto, podemos ver que a vontade de se estar na moda, de se ver incluído dentro de um grupo social, não é de hoje.

As meias extravagantes de Dancin' Days

As meias extravagantes de Dancin’ Days

Ainda que a mídia não seja a principal causa do consumo, ela é usada como um “espelho” pelas massas, ditando moda e modismos. E isso extrapola o âmbito da moda, passando por modos de falar, de agir e passando pela religião e cultura. Como podemos ver no artigo da revista Veja, na época da novela “Caminho das Índias”, a cultura indiana ficou em bastante evidência, chegando ao ponto de ser comerciados sáris, um traje típico da mulher indiana.

Cléo Pires usando um sári em Caminhos das Índias

Cléo Pires usando um sári em Caminho das Índias

A lista ainda traz um brinco feito de ouro e assinado por um design famoso, acessório que ficou conhecido por ser usado por Glória Pires na novela “Água Viva”, e ainda é ressaltado que várias cópias baratas foram comercializadas. Isso ilustra o status social desejado pela maioria, geralmente sem grande poder aquisitivo: não podendo consumir o produto original, compram-se cópias, na ânsia de se misturar e fazer parte da moda também.

Assim, Canclini conclui que no consumo se constrói parte da “racionalidade integrativa e comunicativa de uma sociedade”, já que, se certos artigos e produtos fossem apenas de acesso à elite da sociedade, não poderiam ser utilizados como forma de diferenciação. As pessoas percebem que, ao comprar, estão não só fazendo parte do ciclo econômico mas, também, adquirindo um status.

Néstor García-Canclini: entre hibridização e consumo

cancliniUm dos mais importantes intelectuais latino-americanos, o argentino Néstor García-Canclini, nascido em La Plata, em 1939, notabilizou-se como antropólogo, crítico cultural, escritor e professor. Erradicado no México desde 1976, é professor na Universidad Autónoma Metropolitana (Unidad Iztapalapa), onde dirigiu o Programa de Estudos sobre Cultura até 2007.

Graduou-se em Filosofia e concluiu seu doutorado em 1975 pela Universidad de La Plata (Argentina), além de realizar, três anos depois, doutorado pela Universidade de Paris X – Nanterre (França). Iniciou a docência pela própria Universidad de La Plata, no período de 1966 a 1975. Trabalhou durante um ano, entre 1974 e 1975, pela Universidad de Buenos Aires. Ainda seria professor visitante nas universidades de Duke, Stanford, Austin, Barcelona e São Paulo.

Seus estudos são marcados pelas análises e junções entre culturas, etnias, referências midiáticas, populares e tradicionais. Em suas obras, trabalha com conceitos-chaves como a hibridização, a identidade latino-americana a partir do processo de globalização, a própria globalização, mas como um “horizonte” no qual os indivíduos inserem seus produtos em mercados mais amplos, a arte contemporânea, os novos modos de leitura e a mobilidade identitária.

Sua relevância e importância são representadas, também, pelos seus prêmios. Intitulado pesquisador emérito do Sistema Nacional de Pesquisadores do México, Canclini ganhou a beca de Gugghenheim pelo livro “Las culturas populares en el capitalismo”, Prêmio Ensaio concedido pela Casa das Américas. Em 2012, foi condecorado com o Prêmio OEI em Salamanca, na Espanha, pela Fundação Telefónica. Além disso, sua obra “Culturas híbridas. Estrategias para entrar y salir de la modernidade” (1990) foi condecorado em 2002, pela Latin American Studies Association, com o Book Award, como melhor livro sobre a América Latina.

Compõe a bibliografia de García-Canclini obras como “Arte popular y sociedad en América Latina” (1977), “Las culturas populares en el capitalismo” (1982), “¿De qué estamos hablando cuando hablamos de lo popular?” (1986), “Culturas híbridas. Estrategias para entrar y salir de la modernidade” (1990), “Cultura y Comunicación: entre lo global y lo local” (1997) e “Latinoamericanos buscando lugar en este siglo” (2002), além de outros títulos renomados.

Atualmente, sua investigação enfoca as relações entre estética, arte, antropologia, estratégias criativas e redes culturais dos jovens.

Abaixo, uma entrevista com o autor realizado pelo “Observatório da Imprensa”, da TV Brasil, em comemoração aos 17 anos do programa.

Mediações: a alucinação de identidades na Ucrânia

Conflitos na Ucrânia

O principal ponto dos estudos latino-americanos acerca das teorias da comunicação é o pensamento a partir da perspectiva dos meios para a sociedade. O foco é o sujeito e as mediações sociais; a teoria da escola latino-americana é denominada teoria da recepção. As mediações explicam e justificam o processo de recepção e o leitor determina em última análise a qualidade da obra, ou seja, os meios são fatores diretamente influenciáveis na percepção da sociedade, embasados pela reunião entre tecnologia e consumo e destas com a política e a cultura. Os meios passaram a constituir o público, a mediar na produção de imaginários que fazem parte da experiência urbana dos cidadãos.

As mediações são os espaços entre a emissão e a recepção das mensagens, onde se dão relações nas estruturas socioculturais de um determinado ambiente, e o seu conceito e entendimento é tangível ao processo de globalização. Nas atuais circunstâncias é quase inevitável discutir as mediações sem levá-la em conta e, do mesmo modo, sem desembocar em uma das instâncias mais afetadas por tal processo: a identidade. O processo global serve-se de um caráter paradoxo no âmbito das tecnologias, já que, simultaneamente, é um processo de interconexões instrumentais em escala mundial, que desconecta tudo o que não vale para essa razão instrumental; esta que é marcada, na pós-modernidade, por dispositivos como smartphones e tablets, a fim de participar do fluxo informacional caracterizado pelo pertencimento. É um processo que ao mesmo tempo que inclui, exclui. Todo esse contexto é responsável pela abrangente diversidade cultural dispersa no planeta hoje, mas também responsável pelos principais conflitos político-culturais ocorrentes. Na medida em que se imerge em uma cultura global, há o distanciamento da cultura local. Contudo, em alguns exemplos, a cultura global tem sido instrumento de afirmação e fechamento das culturas locais

Um dos conflitos mais efervescentes no cenário global é o que se instalou na Ucrânia em fevereiro de 2014. O país virou palco de uma guerra e se dividiu em duas partes: o lado oeste, inclinado a alianças políticas com a União Europeia, e o lado leste e sul, inclinado a alianças com a Rússia e à junção do país à União Eurásia. Uma das principais tensões envolvendo o conflito é a diversidade presente no território ucraniano, linguística, histórica, cultural e religiosa. Toda essa diversidade fomentou a emergência de duas mentalidades e interesses opostos entre os lados ocidental e oriental da Ucrânia.

Um dos fatores principais na criação dessa diversidade ocorrente na Ucrânia é o fato do atual território ter sofrido com vários domínios ao longo da história: o Império Otomano, o Império Austro-Húngaro, a Rússia czarista e o Estado polaco-lituano. Esses vários domínios implicaram, logicamente, em várias formas de viver, em várias culturas.  Porém, as variedades identitárias não se traduzem na inexistência de uma identidade nacional, pois todas essas divisões se expressam também em diferentes “pernas” do nacionalismo, tanto que os líderes dos protestos na Ucrânia são de direita ou extrema-direita, simpatizantes do fascismo e nazismo. Reprimidos desde a “teórica” separação da União Soviética em 1991, pois na “prática” a elite oligárquica ligada à política pró-Rússia permaneceu no poder, simbolizam agora na guerra que se instalou a explosão, a alucinação identitária.

Como disse Barbero, “os nacionalismos, as xenofobias ou os fundamentalismos religiosos não se esgotam no cultural, pois todos eles remetem, em períodos mais ou menos longos de sua história, a exclusões sociais e políticas, a desigualdades e injustiças acumuladas, sedimentadas”. A alucinação de identidades luta para ser conhecida, mas seu reconhecimento só é completo quando as distâncias são impostas, quando cada qual fica em seu lugar.

Jesús Martín-Barbero: mediações na comunicação

Jesús Martín BarberoNascido em Ávila, na Espanha, em 1937, Jesús Martín-Barbero é atualmente um dos teóricos mais conhecidos e respeitados a nível mundial no campo da comunicação. Em 2003, obteve a dupla nacionalidade colombiana, onde vive, em meio a viagens a trabalho, desde 1963.

Doutor em Filosofia pelo Instituto de Filosofia de Lovaine, na Bélgica, realizou pós-doutorado em Antropologia e Semiótica na Escola de Estudos Avançados em Ciências Sociais de Paris. Filósofo, antropólogo, semiólogo e especialista em comunicações e mídia, foi nomeado doutor honoris causa pela Universidade Nacional de Rosário, da Argentina, e pela Pontíficia Universidade Javeriana de Bogotá, na Colômbia. Foi presidente da ALAIC (Associação Latino-Americana de Pesquisadores da Comunicação) e é membro do Comitê Consultivo da FELAFACS (Federação Latino-Americana das Faculdades de Comunicação Social).

Barbero produziu importantes sínteses teóricas na América Latina sobre a pós-modernidade; suas obras e contribuições baseiam-se na análise da cultura como mediação, no estudo da globalização a partir da semiologia, na função alienante das mídias locais e, particularmente, na função das telenovelas na América Latina. No que diz respeito à sua bibliografia, publicou entre outros livros “Dos meios às Mediações”, 1987, “Comunicação e Culturas Populares na América Latina”, 1987, e “Meios, Cultura e Sociedade”, 1998.

Analisando a peça publicitária: “Melhores Restaurantes”

Para homenagear prêmio promovido pela revista Veja, a marca de cerveja Bohemia criou peças publicitárias para promover as categorias “Melhores Restaurantes”, “Melhores Bares” e “Melhores Comidinhas”. Aqui, analisaremos a primeira peça.

A publicidade, que tem como título “Bohemia: Melhores Restaurantes”, dispõe os ingredientes pela imagem inteira e a garrafa de cerveja é representada como um item da preparação da comida. No texto, ao comparar os chefs de restaurantes com o mestre cervejeiro da marca, podemos ver o apelo emocional trabalhando junto com a ética da marca. Assim como os grandes chefes fazem, a marca também escolhe os melhores ingredientes para seu produto. Além disso, o texto diz “só para acompanhar, nosso mestre cervejeiro faz o mesmo”, utilizando um jogo de palavras que significa que a cerveja serve de acompanhamento para os pratos.

A estratégia da marca é dispor os ingredientes na mesa, mostrando que a cerveja é indispensável para a preparação e consumo dos pratos.